sexta-feira, novembro 23, 2007

Política - FHC, bom português e a crise tucana

Numa clara referência a Lula, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou hoje, durante o 3º Congresso Nacional do PSDB, que o país precisa ser liderado por alguém que fale bom português. "Faremos o impossível para que os brasileiros falem a nossa língua e falem bem e não sejam liderados por alguém que despreza a educação, a começar pela própria", disse o ex-presidente (veja matéria do Estadão, referenciada abaixo). Demonstra, com isso, um preconceito e um despeito enorme. Segundo o jornalista Paulo Henrique Amorim (veja o artigo no link abaixo), "...se ele exprime esses sentimentos, com tanta clareza, porque é um despeitado – como supõe o Ministro Tarso Genro – ou que percebe que vai entrar para a História como uma nota de pé de página do movimento neo-liberal na América Latina, isso pouco importa". O sociólogo tem horror a pobre mesmo.
Mais que uma declaração isolada, é possível, com isso, ver o quão desesperado está o PSDB. Atira para todo lado, de qualquer jeito e com qualquer argumento. Sem discurso coerente, negando realizações feitas no passado quando era governo - como as privatizações -, o partido está em busca de uma identidade, após as derrotas nos pleitos presidenciais de 2002 e 2006. Os presidenciáveis José Serra (SP) e Aécio Neves (MG) procuram, ao máximo, descolar-se de FHC. Já ficou comprovado, em eleições anteriores, que o ex-presidente tira votos de quem apóia. FH terminou seu mandato, em 2002, com apenas 30% de taxa de avaliação positiva - enquanto o "analfabeto" Lula tem mais de 50%. Em resumo: atrapalha mais o PSDB do que ajuda. Quanto menos ele fala, melhor para os tucanos.
E mais: segundo PHA, o objetivo do ex-presidente "...é tirar o foco da denúncia contra o mensalão tucano. É mais ou menos como arrancar o dedão do pé para se livrar de um espinho". Pois é, ainda tem o mensalão mineiro. Como é dura a vida do PSDB: está na oposição desde 2003 e, pior, sem base social.
Desse jeito, os tucanos não vão conseguir cumprir o grande objetivo proposto pelo novo programa do partido que é aproximar o povo brasileiro da legenda.
Reportagem do Estadão: http://www.estadao.com.br/nacional/not_nac84610,0.htm
Artigo de Paulo Henrique Amorim: http://conversa-afiada.ig.com.br/materias/467001-467500/467131/467131_1.html

terça-feira, novembro 20, 2007

Política - Câmara dos Deputados dá as costas para os comerciários

O Plenário da Câmara dos Deputados rejeitou, por 234 votos a 197 e 5 abstenções, as mudanças feitas no Senado Federal para a MP 388/2007, que regulamenta o trabalho no comércio aos domingos e feriados. O Senado queria que o trabalho no comércio aos domingos fosse autorizado, ou não, pela convenção coletiva dos comerciários. Com isso, a Câmara deu as costas para esses trabalhadores. Essa medida enfraquece os sindicatos, mostrando de que lado a maioria dos deputados está. Vale registrar que as lideranças do PT, PSB, PDT, PCdoB, PSOL, PV, PPS, PHS e PTdoB encaminharam voto favorável às modificações do Senado. PSDB e DEM, por exemplo, votaram contra as mudanças.

domingo, novembro 18, 2007

Esporte - Santa Cruz na terceirona

E o Santa Cruz, hein? Que ano terrível. O time terminou a primeira fase do Campeonato Pernambucano em 7º lugar, atrás de times inexpressivos como Ypiranga e Vera Cruz. E no Campeonato Brasileiro da Segunda Divisão, depois de ter sido rebaixado da Série A, ano passado, 18º lugar e rebaixamento à Série C. Foi uma tragédia anunciada. Time montado às pressas, salários atrasados, falta de planejamento, são algumas das causas do fracasso. Desde 2006, quando o rebaixamento à Série B era certo, que o Santa Cruz não joga bem. Tempo suficiente para fazer ajustes e planejar o time para a temporada 2007. Mas não foi o que aconteceu. Continuaram contratando jogadores com base no que eles foram e não no que eles são atualmente. Resultado: um time teoricamente bom no papel, mas na prática... Que sirva de lição esse momento. Está na hora de profissionalizar todas as diretorias do clube, impor metas a seus titulares e cobrar resultados. Um lampejo de que isso vai acontecer: Ricardo Rocha, tetracampeão mundial em 1994, foi convidado para ser diretor do departamento de futebol, a ser criado, cargo que será remunerado.
É hora de levantar a cabeça. Não adianta o presidente Edinho ir à imprensa mostrar um dossiê contendo provas de corrupção na arbitragem brasileira. Isso não salvará o Santa da terceirona. E mais: porque somente agora ele apresentou esse dossiê?
A palavra de ordem no tricolor deve ser trabalho. Para que as quedas seguidas se transformem em acessos seguidos rumo à Série A.

Fragmentos (de uma vida banal)

Um dia nas férias. Um dia qualquer da semana passada.
Acordei às onze horas da manhã, com sono, para almoçar, tomar banho e ir para a auto-escola. Resolvi aprender a dirigir. Quem já viu um homem que não sabe dirigir? Vou, então, tentar tirar a Carteira Nacional de Habilitação.
Saí de casa para apanhar o ônibus rumo à auto-escola. Esperei uns cinco minutos e o ônibus chegou. Passei pela catraca e sentei-me ao lado de uma senhora bêbada e mal-cheirosa. Pense como isso me irritou. Aliás, irrito-me com simples eventos, como quando tenho que sair de casa e começa a chover, por exemplo. Isso é tão banal que não deveria provocar irritação em ninguém. Depois dessa tergiversação, volto ao relato.
Em quarenta minutos estava na auto-escola. Mas, antes, passei pelo paraíso do consumo que "atende" pelo nome de shopping-center. Não perdi a oportunidade de fazer algumas infames piadinhas a respeito da classe média consumista ao meu irmão, que me acompanhava e que também está tentando se tornar um motorista de carro de passeio. Ele rira bastante, mas as piadas eram bem ruins. Acho que nem precisava de piada. Ver a classe média se empanturrando em compras e sair do shopping e dar de cara com uma favela, a menos de 30 metros, com crianças andando nuas e descalças é, no mínimo, humor negro. Uma piada de péssimo gosto. Mas deixa para lá. Acabei hesitando novamente.
Disse que em quarenta minutos estava na auto-escola. A auto-escola fica bem perto do shopping e da favela mencionada. Fica no primeiro andar de uma sala comercial. É um imóvel minúsculo com péssimas instalações. O atendimento é pior ainda. Quem me atendeu pela primeira vez, foi uma mulher que aparentava ter entre 18 e 21 anos. Pense numa moça insolente, mal-educada. Quase perco o que me resta de compostura com ela. Mas me contive. Afinal, sou bom moço e tinha três horas intermináveis de aula pela frente. Não podia me irritar e arriscar ter uma dor de cabeça. Ainda mais naquele calor, acentuado pelas pequenas dimensões do imóvel. Para me refrescar um pouco, fui tentar tomar um copo de água. Mas quem disse que tinha água? Outra banal irritação. Começou a aula. Na sala tinha gente de todo tipo. Gente nova, gente velha, magros (como eu), gordos, mães recentes, desempregados, enfim, um verdadeiro mosaico de tipos. Como em quase todo lugar. Chega o instrutor.
Tipo engraçado o tal instrutor. Era meio surdo e não enxergava muito bem. Falava pausadamente, o que me irritava às vezes - mais uma irritação banal. O senhor, a que muitos se referiam como "professor", não tinha a menor didática. As aulas eram irritantemente monótonas. Disse umas quarenta infrações cometidas no trânsito e respectivas penalidades. Deu nem tempo de refazer a sinapse nervosa. Estava prestando tanta atenção no que ele estava dizendo que acabei cochilando uns cinco minutos. Chega a hora do intervalo.
Vinte minutos. Não tinha intimidade com nenhum dos meus pares. Uma semana só de aula, para quê conhecer mais gente? Fiquei trocando idéias com meu irmão. Falamos de tudo: moda, pintura, cinema. Cada assunto era discutido à toque de caixa. Já pensou falar do expressionismo em um minuto? Ou do neo-realismo italiano em dois minutos? Dá para perceber o quanto foram proveitosas nossas conversas. Acabou o intervalo. Os vinte minutos se transformaram em trinta e cinco. Voltamos à aula.
Eu só conseguia prestar atenção no relógio, rezando para que chegasse logo às cinco horas da tarde. Mas o instrutor quebrou meu galho. Nos liberou vinte minutos antes. Nem ele estava agüentando aquele misto de marasmo e calor infernal. Dirijo-me à parada de ônibus, a fim de retornar para casa. Afinal, estou de férias e sem dinheiro. O melhor lugar para estar é em casa. Chega o ônibus. Ainda bem que tem lugar para sentar. Pago a passagem e sento-me. Chego em casa. Tomo banho e como alguma besteira. Mas o dia estava longe de terminar...
Dando uma passada nos canais de televisão, vi que ia passar "Morte em Veneza", de Luchino Visconti. Já tinha ouvido falar muito desse filme e do livro do Thomas Mann. Marquei para não esquecer. Até lá, li algumas páginas de "A Paixão Segundo G. H.", da Clarice Lispector. Ainda estou na metade do livro. Não consigo avançar muito. O sufoco da protagonista é o meu. Pense como fico angustiado lendo esse livro. As palavras não dão conta do que G. H. sente.
Depois, passei a assistir a sessão da Comissão de Constituição e Justiça do Senado Federal que ia decidir se aprovaria ou não a prorrogação da CPMF. Aliás, não se fala em outro assunto. O Brasil se resumiu à CPMF. R$ 40 bilhões. O governo não queria perder. Como eu não queria perder minha paciência ouvindo um tal de Wellington Salgado, suplente de senador, desliguei a televisão. Fui para o computador.
Não sei porque toda vez que entro na internet, vou logo para a página da Folha de S. Paulo. Um jornal conservador, devoto do neoliberalismo, como quase toda a mídia brasileira. Mas sei filtrar o que é informação e o que é opinião. E como vêm misturados esses dois elementos, viu? Li algumas notícias. Percebi que faltavam dez minutos para começar o filme. Chegou a hora do filme.
Chamei meu irmão para assistir. Ele não quis, mas depois entrou no quarto e pegou o filme pela metade. Que obra-prima do Visconti. Ainda não tinha assistido. O filme conta a história de um músico que encontra a beleza personificada em um adolescente. Depois do encontro com o garoto, todas as discussões a respeito da beleza, se eram objeto da criação humana ou divina, caíram por terra. O músico apaixona-se perdidamente pelo adolescente e, a partir daí, começa a luta dele com ele mesmo, com seus valores e devaneios. Tudo isso, sendo acompanhado pela quinta sinfonia de Gustav Mahler. Fazia tempo que não via um filme tão belo. E a cena final, então? É sublime. Em certa parte do filme, é mostrada uma Veneza decadente, com seus mendigos e a peste asiática. O oposto da beleza. Tal qual, a relação "antônima" entre o shopping center e a favela, sendo que aqui esses extremos são produtos de um mesmo vetor. Pára, pára.
Fiquei com a imagem final do filme na minha cabeça, junto com o adagietto da quinta sinfonia do Mahler. Fui dormir. Ganhei meu dia.